Olá,
Nas últimas duas semanas, postei sobre assuntos que têm tudo a ver com transição de carreira. Por mais que tenha feito a troca mais radical há alguns anos, eu não vejo que as últimas mudanças deixaram de ser também uma transição. Por isso, quero compartilhar na edição de hoje as ferramentas e estratégias que usei para abraçar as mudanças da forma mais tranquila possível.
Abraço,
Ingrid Machado
Nesta edição
🗒️ Organização pessoal: Lista de prós e contras
🔁 Falando sobre agilidade: Simplicidade
👥 Sobre gestão: Onboarding
📘 Livro do mês: Pipeline de liderança
📚 Lista de leitura
💻 Últimos posts do blog
Organização pessoal: Lista de prós e contras
Seção para reforçar o meu compromisso de manter a minha própria organização.
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No post sobre a minha transição para gerente de engenharia, comentei que fiz uma lista de prós e contras antes de decidir em qual papel gostaria de atuar. E, apesar de não ter um grande embasamento teórico sobre ela no momento, quero compartilhar como que essa ferramenta simples me ajuda em situações como essa.
Passando um pouco de contexto, eu sou muito indecisa. Num nível de estar defendendo porque algo é o certo e na metade do meu argumento já estar falando por não é certo coisa nenhuma. Então não adianta muito quando alguém tenta me ajudar a tomar uma decisão meio que na sorte. Eu preciso de fatos, colocar eles na balança, dormir pensando no assunto e aí então começar a falar sobre para entender qual é a minha opinião/decisão. Por isso, algo tão simples quanto uma lista de prós e contras me ajuda a tirar o turbilhão de pensamentos da minha cabeça e organizar os fatos para chegar a uma conclusão.
Tomando como exemplo a minha transição para Gerente de Engenharia, o primeiro fato que eu foquei foi: o papel de Squad Leader não existe mais. Mas, se eu ficasse pensando só nisso, provavelmente não teria feito uma escolha. Porque iria perder muito tempo reclamando que o papel em que atuava deixou de existir. Não que eu não tenha reclamado, mas precisava dar o passo seguinte: escolher entre ser Agilista ou Gerente de Engenharia.
De posse da definição inicial dos dois papeis, comecei a ponderar sobre o que gostava em cada um deles, sobre o que teria que aprender para estar alinhada à atuação esperada e o que não me agradava muito. E, quando estava quase criando uma estrutura extremamente complexa para decidir sem visibilidade nenhuma, decidi fazer a lista.
Por mais que os dois papeis envolvam todas as atividades que eu fazia como Squad Leader, é difícil conseguir enxergar a atuação em separado. Algo parecido sobre deixar de fazer algumas atividades porque quer atingir a simplicidade. Por isso, colocar no papel e enxergar cada item foi bem importante para a decisão.
Caso você não conheça, a estrutura é bem simples: separe um papel em duas colunas, com uma intitulada como “Prós” e outra como “Contras”. Alguns artigos sugerem uma matriz, em que se inclui também os prós e contras de não fazer a escolha. Depois de ter a estrutura montada, comece a avaliar os pontos positivos e os pontos negativos de cada escolha.
O importante aqui é, além de listar os pontos, também tentar justificar ou se imaginar nas situações. Eu mesma incluí alguns itens como negativos e quando tentei pensar mais sobre eles entendi que eram coisas que até nem faziam tanta diferença na minha escolha. Outra dica é conversar com alguém depois de ter essa lista criada. Aqui eu passei por cada ponto junto do meu marido, que também me sinalizou que algumas coisas estavam um pouco simples demais. E que a minha decisão seria um pouco apressada com a lista cheia de itens em alto nível.
Use a lista de prós e contras como uma ferramenta para organizar as ideias, mas também não saia tomando decisões sem ao menos refletir sobre o que você colocou no papel. No meu caso, tomei a minha decisão depois de alguns dias e, até o momento, não me arrependo da escolha que fiz e sei do que abri mão para poder decidir.
Falando sobre agilidade: Simplicidade
Uma seção para falar de agilidade, misturando teoria, prática e muitos questionamentos.
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Com as mudanças que andam acontecendo na minha atuação como Gerente de Engenharia, estou trabalhando para atuar de acordo com o seguinte princípio ágil:
Simplicidade - a arte de maximizar a quantidade de trabalho não realizado - é essencial.
E, por mais que eu saiba que todos os princípios possuem fundamento e lógica, é muito difícil aplicar esse em específico no meu dia a dia. Principalmente quando estamos saindo de um contexto com excesso de tarefas e vindo de ambientes que valorizam estar ocupados ao invés de estar gerando valor.
Inclusive, o pipeline de liderança define que um dos pontos para fazer a transição para a gestão é gerenciar bem o tempo. Por isso, vejo a simplicidade como uma forma de ser ágil na minha atuação como gestora. Porém, não é apenas maximizar a quantidade de trabalho não realizado por si só. É preciso avaliar se os resultados esperados estão sendo alcançados e o que pode deixar de ser feito.
Quais são os resultados esperados
Para entender se estamos simplificando de forma consciente e eficiente, podemos iniciar avaliando qual é o resultado esperado de cada atividade que fazemos. O que também implica em listar as nossas atividades.
Por exemplo, se uma demanda chega para o time, entender qual é o resultado esperado é o caminho mais fácil para definir a solução mais simples possível. Muitas vezes a solução chega pronta e gastamos tempo e recursos para entregar algo que não resolve nenhuma dor.
Outro exemplo pode ser a criação de relatórios. Sem saber qual é o objetivo e as respostas que o relatório deve fornecer, caímos na armadilha de criar materiais de forma indiscriminada. Um efeito colateral é uma boa quantidade de relatórios cheios de informações que não são acompanhados por ninguém.
O que pode deixar de ser feito
Sabendo o resultado esperado da demanda, atividade ou até mesmo do seu papel fica muito mais fácil abrir mão de algo. Falo por experiência própria que é muito difícil estar acostumado a sempre assumir as atividades sem dono para que o time não pare e, além de ficar sobrecarregado, também sofrer por não saber o que parar de fazer.
A estratégia que adotei consiste em listar as atividades, entender quais são os pontos de atenção do time, priorizar e comunicar a priorização. Só depois dessas etapas consegui começar a parar de fazer algumas atividades e, surpreendentemente, ver o dia a dia do time avançar.
Parece até contraintuitivo, mas diminuir a quantidade de atividades pode ser a resposta para melhorar o resultado. Pior do que não fazer algo é fazer alguma coisa errada ou que não contribui com os objetivos. Pense nisso no momento em que estiver paralisado pelo excesso de trabalho e organize as suas atividades para conseguir visualizar o que está sendo executado sem necessidade.
Teorias que sustentam esse princípio
Se, assim como eu, você também precisa de alguma explicação além para se convencer a deixar de executar algumas tarefas, compartilho duas teorias que sustentam que fazer menos nem sempre significa fazer pouco.
A primeira teoria é a Lei de Parkinson, que diz o seguinte:
O trabalho se expande de modo a preencher o tempo disponível para a sua realização, quanto mais tempo, mais importante e exigente o trabalho parece.
Quando temos um resultado a ser entregue com um prazo definido, podemos entender a partir dessa regra que o trabalho será feito. Porém, preenchendo todo o tempo disponível. Se fizermos apenas o suficiente (o mais simples) podemos ocupar esse tempo com algo que realmente trará valor e será executado sem um grande cansaço mental. Para essa última afirmação, me apoio num estudo sobre a interferência da tarefa dupla e no custo da mudança de contexto.
Já é conhecido que a multitarefa não é verdadeira para todos os casos. Quando precisamos focar em uma atividade, não conseguimos focar em outra ao mesmo tempo. E passar de uma atividade para a outra não nos torna mais produtivos, justamente pelo processamento necessário para a troca de contexto. Por isso, focar no que precisa ser feito é muito mais eficiente e ainda torna o dia a dia de trabalho menos cansativo.
Nesse ponto, também considero importante fazer um bom planejamento do seu dia. Senão essa definição pode se tornar um vilão e tarefas que deveriam ser simples e rápidas podem ocupar um tempo desnecessário e perder a sua característica de simplicidade.
A segunda teoria é o Princípio de Pareto (ou Regra 80/20), que diz o seguinte:
80% dos efeitos vêm de 20% das causas.
Ou seja, mais uma teoria que mostra que estar cheio de tarefas para se sentir produtivo pode ter o efeito contrário. Se 80% do que produzimos vem de 20% dos esforços, precisamos ser muito intencionais na nossas atividades. Se deixarmos de lado o que não traz o resultado esperado e focarmos de verdade no que vai atingir os nossos objetivos, teremos um impacto cada vez maior com cada vez menos esforço.
E essas duas teorias nos mostram que um planejamento de tempo é bem importante. Fazer o que é preciso e de forma simples nos deixa com mais tempo livre. Esse tempo pode ser aproveitado para descansar, estudar e refazer todo o caminho de avaliar quais resultados precisam ser entregues e como eles serão atingidos da forma mais simples possível. Reforço isso porque ficar com tempo ocioso também não é interessante e a simplicidade de verdade deve emergir de forma consciente.
Na seção de hoje, aproveitei para compartilhar alguns materiais e teorias que venho estudando para conseguir fazer essa transição para um dia a dia mais simples, sem me sentir ansiosa por estar “produzindo menos”. Caso você tenha mais alguma dica sobre isso, basta responder o email ou comentar diretamente no post do Substack. Vou adorar saber mais sobre o assunto.
Sobre gestão: Onboarding
Uma seção para compartilhar as minhas descobertas a respeito da gestão de pessoas. As referências usadas na seção estão aqui.
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Quando você faz uma nova contratação para o time, é importante planejar como será o início da atuação dessa pessoa, quais são as informações que ela precisa aprender e quais pessoas ela precisa conhecer. Isso é importante mesmo quando a empresa possui um processo de onboarding, já que você deve focar no processo a nível de time.
Como gestor, não é esperado que você conduza todo o processo de onboarding, talvez nem seja preciso conduzir nenhuma parte. O que precisa ser feito é garantir que as informações estão disponíveis e organizar como será a recepção e passagem de conhecimento.
Usar pessoas que já atuam no papel como ponto de apoio é interessante, até para o desenvolvimento de quem já está no time. Por exemplo: se um novo desenvolvedor está iniciando no time, você pode pedir o apoio do desenvolvedor existente para acompanhar o novo colega nas primeiras semanas. Além de passar as informações gerais, a pessoa tem afinidade com o papel que será desempenhado. Por isso, poderá apoiar em detalhes do ambiente de desenvolvimentos e peculiaridades do projeto.
Acho que o mais importante aqui é não deixar uma pessoa à deriva. Caso você já tenha tido qualquer experiência de trabalho, deve saber o quanto é ruim estar em um ambiente novo sem apoio e se sentindo completamente perdido.
Fica como sugestão alguns pontos que podem ser abordados no onboarding:
Informações gerais sobre a empresa e a área
Liberação de acesso às ferramentas de trabalho
Apresentação aos colegas de time e stakeholders
Acesso à documentação
Já tive algumas experiências de onboarding bem diferentes e quando não é dada a devida atenção para quem está iniciando, sempre temos um impacto negativo na curva de aprendizado. Por isso, reveja os seus processos e avalie se o time está organizado de forma a conseguir receber um novo integrante sem prejuízo para quem chega e para quem já está trabalhando.
Com esse texto, encerro a parte de rituais de gestão na seção. A partir do próximo envio, começo a falar sobre Gestão 3.0.
Livro do mês: Pipeline de liderança
Todo mês, uma indicação de livro para o desenvolvimento pessoal e profissional.
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Ficha técnica
Título: Pipeline de liderança: O desenvolvimento de líderes como diferencial competitivo
Autores: Ram Charan, Stephen Drotter e James Noel
Editora: Sextante
Porque é uma boa leitura
Além de estar como recomendação de livro do mês, também escrevi um post sobre a primeira transição do pipeline de liderança. Caso você tenha interesse ou já está atuando com a gestão, é um ótimo material para entender a diferença desde gerente de outros até o papel de CEO.
Dependendo da empresa em que você trabalha, o pipeline pode ser a referência utilizada para o avanço nessa carreira. Por isso, é bem interessante saber o que é esperado em cada nível e como você pode se preparar para os níveis seguintes.
Lista de leitura
Registro de todos os livros que li desde o último envio da newsletter. A lista completa de livros que prometi ler esse ano pode ser vista no post Lista de leitura 2022.
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Queria ter lido esse livro antes da minha primeira atuação como gestora. O pipeline de liderança torna mais palpável a diferença de atuação entre um contribuidor individual e um gestor. E traça um plano para que seja possível evoluir dentro do papel de gestão. Depois da leitura o meu objetivo é ler novamente o capítulo que aborda o meu nível atual e entender o quanto estou aderente com a definição. E, a partir dessa conclusão, traçar um plano para trabalhar os meus pontos de melhoria.
Últimos posts do blog
Seção onde envio as atualizações do blog, sempre no estilo slow blogging.
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Hoje trago dois posts que falam sobre a transição para a gestão. Além deles, indico também a leitura do post “Como foi o meu processo de troca de emprego”.
E claramente preciso revisar as categorias existentes junto com a mudança de layout do blog. Mas, por enquanto, esses textos sobre carreira ficam dentro de “Insights”.
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Insights
Primeira passagem do pipeline de liderança
Estava lendo o Pipeline de Liderança junto com uma amiga no trabalho e, a cada capítulo, percebemos como esse livro é importante para quem quer avançar na gestão. Pensando na Ingrid que assumiu o seu primeiro papel de gestão sem saber muito a diferença na atuação, compartilhei nesse post um resumo do capítulo sobre a primeira passagem do pipeline: de gerenciar a si mesmo para gerenciar outros.
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Como foi a minha transição para Gerente de Engenharia
Esse post pode ser considerado a parte dois do “Como foi o meu processo de troca de emprego”. Depois de assumir como Squad Leader, mudanças na estrutura me deram a opção de escolher entre ser Agilista ou Gerente de Engenharia. O resultado da escolha você já sabe, mas quis compartilhar quais foram os passos para a prática acontecer.
Como gestora, sinto que estou sempre em transição. A todo momento, surge um conceito novo, uma situação inédita e eu preciso buscar referências e apoio dos meus colegas. Por isso, as últimas edições estão bem focadas na minha mudança na rotina e nos meus estudos.
Aproveitando esse embalo de estar estudando todos os dias, me inscrevi no curso Gestão do Moderna do Software Zen. Foram 4 dias de aulas noturnas e eu mesma me surpreendi com a minha disposição para entender o que estava sendo passado.
Como não estudo apenas para o meu trabalho, terminei também o Curso de Bordado Livre para Iniciantes do Clube do Bordado. Eu estou acompanhando alguns projetos paralelos que envolvem jogos e ando cheia de ideias para unir o bordado com a programação. Mas, no momento, eu estou usando esse novo conhecimento para ficar que nem uma senhorinha bordando vendo o jornal da manhã.
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Por hoje é isso, boa quinzena!
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Imagem do preview de White.Rainforest, via Unsplash