Olá,
Não sei se todos que leem a newsletter sabem, mas eu sou gaúcha. Nasci na cidade de Rio Grande e moro na cidade de Porto Alegre, ambas afetadas pelas enchentes que começaram a destruir o estado em abril e maio de 2024. No meu caso, tive muita sorte, já que não precisei sair de casa e as medidas que precisei tomar para a minha segurança foram mínimas, em comparação com as medidas necessárias para acolher a maioria das pessoas.
Pessoalmente, o momento mais tenso dessa tragédia, aconteceu quando precisei ajudar um casal de amigos durante a evacuação do bairro Cidade Baixa. Foi nessa ocasião que vi de perto o desespero das pessoas: motoristas furando o sinal vermelho, andando na contramão, carros batendo uns nos outros e passando dentro d'água, enquanto as pessoas a pé corriam com os seus pertences pelas ruas. Enquanto estava na segurança da minha casa, passei os dias racionando comida e água enquanto ouvia o barulho de helicópteros e ambulâncias desde o início da manhã até o final da noite. Foi impossível ficar alheio ao que estava acontecendo.
Porém, vi que era muito possível ficar alheio ao que estava acontecendo para quem estava fora do estado. Talvez a mídia tenha demorado para mostrar a real extensão dos estragos, talvez as pessoas estejam acostumadas a ver tanta desgraça que já não se sensibilizam ou talvez não se importem. A quantidade de fake news que atrapalhou o envio de mantimentos escancarou o quanto algumas pessoas pensam apenas em si mesmas e no que conseguem tirar de vantagem de qualquer situação. Já era triste ver esse tipo de coisa quando eu não estava sentindo o impacto do problema, mas ver essa falta de sensibilidade de camarote bateu diferente.
Eu apenas queria enviar essa edição para dizer que hoje não haveria edição. Mas, conforme fui escrevendo esse texto, não pude deixar de pensar no quanto é importante reforçar o quanto sou grata pela corrente de solidariedade que se espalhou e o quanto estou indignada pela inação de longa data de quem era responsável pela manutenção do nosso estado. São sentimentos conflitantes, mas não podemos esquecer de nenhum deles, já que ambos serão importantes para a reconstrução do Rio Grande do Sul.
Peço que sigam doando para a cozinha solidária, que mantém um trabalho importante de alimentar quem está com fome. Essa doação pode ser feita através do pix rededeabastecimento@gmail.com
Abraço,
Ingrid Machado
É o meu Rio Grande do Sul
Céu, Sol, Sul, terra e cor
Onde tudo o que se planta cresce
E o que mais floresce é o amor