Olá,
Diversidade e inclusão são assuntos amplamente discutidos, mas nem sempre aplicados. Pensando no lado da liderança, existem algumas características que podemos aperfeiçoar para nos tornarmos lideranças inclusivas e que proporcionam um ambiente de trabalho mais diverso e igualitário. Assim, podemos tornar esse assunto cada vez mais prioridade dentro do nosso time.
Na edição de hoje, falo sobre os 6 traços característicos da liderança inclusiva e as diretrizes do Management 3.0 para crescer a estrutura.
É uma edição que está ótima para quem gosta de textão. Espero que seja o seu caso. Boa leitura.
Abraço,
Ingrid Machado
Nesta edição
🎯 Tema da edição: Liderança inclusiva
👩🏽💼 Sobre gestão: Crescer a estrutura
📖 Aprendizado contínuo: Formando blocos de memória
🎯 Tema da edição: Liderança inclusiva
Seção para falar sobre o tópico principal da edição.
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Estou fazendo uma especialização em liderança e gestão estratégicas no Coursera e os cursos sempre têm leituras muito interessantes como parte do material. Uma delas, é um estudo da Deloitte que fala sobre os seis traços característicos de uma liderança inclusiva.
Por ser um assunto que considero extremamente importante e pela qualidade do material, decidi compartilhar aqui quais são essas seis características. O relatório completo explica cada uma delas, com os seus respectivos elementos e o que líderes inclusivos pensam e fazem a respeito de cada um deles. Além disso, também é exposto o quanto considerar a diversidade no ambiente de trabalho é benéfico para os resultados.
Os seis traços são comprometimento, coragem, reconhecimento de vieses, curiosidade, inteligência cultural e colaboração.
Comprometimento
É muito difícil caracterizar um líder como inclusivo quando diversidade e inclusão não fazem parte dos seu valores. Por isso, o comprometimento com a causa é listado como o primeiro traço característico de uma liderança inclusiva.
Por mais que dados sejam divulgados e mostrem o quanto ambientes diversos possibilitam a inovação e a entrega de melhores resultados, acreditar que isso é verdade faz a diferença. Respeitar as diferenças, tratar todas as pessoas de forma justa e tratar a diversidade e a inclusão como prioridades são características que reafirmam esse comprometimento.
Coragem
Ter coragem no ambiente corporativo é deixar os seus interesses pessoais de lado para alcançar objetivos maiores. Um líder corajoso é humilde o suficiente para saber quais são os seus pontos fortes e os seu pontos fracos, pede ajuda quando necessário e não esconde os seus erros. Mas também é bravo o suficiente para ser um agente de mudanças e apontar comportamentos não inclusivos no ambiente de trabalho.
Desafiar o modo como as coisas são feitas e se dispor a mudar um ambiente para ser mais acolhedor para a diversidade é um grande ato de coragem e inclusão.
Reconhecimento de vieses
Todos nós temos vieses. Por isso, para ser uma liderança inclusiva é preciso reconhecer os nossos próprios vieses, bem como os vieses da organização que fazemos parte.
Para ajudar a quebrar o padrão, estudar sobre os vieses existentes, identificar momentos em que os seus vieses afloram e se autorregular para diminuir essas ocorrências é uma forma de ser mais inclusivo. Pedir feedbacks e trabalhar para melhorar nas próximas situações é uma outra forma de identificar e reduzir os seus vieses.
Para criar um ambiente mais justo e livre de vieses, é possível pensar em três pontos principais:
Reconhecimento: a remuneração, a avaliação de ciclo de performance e as oportunidades de desenvolvimento e promoção são alocadas de acordo com a capacidade e esforço de cada pessoa? Ou essas escolhas refletem os seus vieses e os da organização?
Processo: os processos aplicados para distribuir esses reconhecimentos são transparentes, aplicados de forma consistente, baseados em informações precisas, livres de vieses e consideram os pontos de vista das pessoas afetadas pelas decisões?
Comunicação: as razões pelas quais as decisões foram tomadas e os processos aplicados são explicadas para as pessoas afetadas? E as pessoas são tratadas de forma respeitosa durante esse processo?
Evoluir através do autoconhecimento e promover um ambiente de igualdade, vai permitir que esse traço de liderança inclusiva seja percebido.
Curiosidade
Líderes inclusivos têm uma mentalidade aberta, um desejo de entender a visão do outro e uma tolerância para ambiguidade. E, para atingir todos esses elementos, é preciso ter uma rotina de aprendizado contínuo, questionar as pessoas buscando entender genuinamente outros pontos de vista e saber lidar com as mudanças.
Inteligência cultural
Outro traço de liderança inclusiva é ser confiante e efetivo em interações interculturais. Ao trabalhar com pessoas de culturas diferentes, precisamos considerar como as nossas visões podem impactar nas expectativas que temos sobre os outros.
A inteligência cultural pode ser construída através da iniciativa para entender outras culturas, considerar as diferenças que podem existir em cada uma delas e se adaptar para conseguir trabalhar bem com pessoas de cultura diferentes.
Essa é uma característica que pode ser aperfeiçoada ao estudar e conversar com pessoas de origens diferentes da sua. Mas é muito importante vivenciar experiências em que as diferenças culturais fiquem mais nítidas. E, a partir dessas experiências, entender como você pode levar essas diferenças em consideração para ter um ambiente mais inclusivo.
Colaboração
Um time com inclusão tem a participação igualitária de todas as pessoas que o integram. Para tal, o líder deve empoderar as pessoas para que se sintam à vontade para contribuir, formar times diversos e criar um ambiente em que as pessoas se sintam seguras para falar.
Fomentar um ambiente de respeito e ser o guardião da inclusão vai permitir que o time tenha discussões construtivas, em que todos colaboram e atingem os melhores resultados.
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Além dos benefícios para o negócio, ter uma liderança inclusiva é extremamente positivo no dia a dia de cada liderado. Esse pode parecer um tópico não tão importante quanto outros, pelo menos da forma que vejo sendo tratado em algumas empresas, mas o impacto é direto nos resultados que cada pessoa pode entregar.
Talvez, só seja possível reconhecer o impacto de uma liderança inclusiva quando nós mesmos fazemos parte do grupo mais diverso (quando comparado ao ambiente em que estamos). Mas acredito que esse é o futuro: ambientes profissionais que refletem cada vez mais as diferenças que temos como sociedade. E não existe motivo nenhum para não se atualizar e se importar a respeito desde agora.
👩🏽💼 Sobre gestão: Crescer a estrutura
Uma seção para compartilhar as minhas descobertas a respeito da gestão de pessoas. As referências usadas na seção estão aqui.
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Um dos grandes desafios no gerenciamento de sistemas complexos é manter uma boa comunicação conforme a organização cresce. Por isso, a dimensão organizacional de crescer a estrutura possui diversas sugestões para gerenciar o sistema e manter a qualidade da comunicação.
Para termos uma boa comunicação, precisamos ter boas informações disponíveis, um bom relacionamento com os pares e bons mecanismos de feedback para verificar o quanto a informação se dissipa sem distorções por toda a organização. Também precisamos considerar que cada pessoa possui uma capacidade diferente de comunicação e que efeitos de rede podem impactar na forma com que a informação se dissipa.
A estrutura de uma organização depende do ambiente, do tipo de produto, do tamanho da organização e das pessoas que a formam. Ou seja, mudanças em cada um desses fatores implicam em mudanças na estrutura da organização. E, como você deve imaginar, esses são fatores que podem mudar constantemente.
Então, se sabemos que os fatores dos quais a estrutura da organização dependem podem mudar constantemente, como podemos ter organizações adaptáveis? E como manter a qualidade da comunicação no meio das mudanças?
Para atingir esses objetivos, podemos seguir algumas diretrizes. Não vou esgotar todas as sugestões, mas vou listar algumas das principais a se considerar.
Considere formar times com especialistas que também são generalistas
Um time de especialistas é mais produtivo do que um time de generalistas. Mas, ao mesmo tempo, é preciso considerar que essa produtividade pode ser ampliada quando os especialistas aumentam o seu escopo quando necessário.
Ou seja, quando um trabalho importante surge, as pessoas do time estão dispostas a atuar nele, mesmo que fuja do seu escopo padrão. Mas, para que isso funcione, os especialistas também precisam ter conhecimento a respeito das outras frentes envolvidas no escopo do time.
Estimule a liderança informal
Liderança não está diretamente ligada à gestão de pessoas. Por isso, é possível existir vários líderes dentro da mesma estrutura. Especialistas que também são generalistas e que conseguem atuar em várias frentes do time são bons candidatos para assumir a liderança.
É possível estimular a liderança informal ao apoiar as lideranças que surgem no time. Apenas evite apontar alguém para esse papel e deixe que a liderança emerja naturalmente.
Mantenha os times focados e com propósito
Mesmo que a estrutura se mantenha em constante mudança, os times existentes devem ter fronteiras bem definidas. Manter uma pessoa em apenas um time permite que o escopo de trabalho seja bem definido e com que o integrante se sinta pertencente ao time.
A recomendação é manter os times trabalhando com a mesma configuração por um período suficiente para que acordos e lideranças emerjam. Por isso, é importante definir a estrutura do time pensando em como aumentar a sua chance de sucesso.
Considere a formação de times funcionais ou multifuncionais
Times funcionais são formados por pessoas com funções similares. Como exemplo, podemos ter um time somente com testadores. E times multifuncionais são formados por pessoas com funções diferentes. Nesse caso, teríamos um time formado por pessoas com papéis diferentes, mas trabalhando no mesmo valor de negócio.
A formação multifuncional é a mais recomendada quando pensamos em melhorar a comunicação. Porém, ela é pior para coordenar a criação de padrões e acordos. Por isso, não limite a formação de times a nenhum dos dois formatos e entenda quais caso são mais aderentes a cada um deles.
Mova algumas atribuições para time separados
Mesmo trabalhando com times multifuncionais, pode fazer sentido ter alguns time funcionais dedicados para tratar de tópicos importantes para mais de um time.
Exemplos de times que podem atuar de forma separada incluem um time de arquitetura. Que pode definir padrões e apoiar em demandas pertinentes para qualquer time da organização.
Pense no valor que cada time e cada camada de gestão pode fornecer
Cada time deve se ver como uma unidade de valor. Sendo que a sua existência é justificada pelo valor que pode entregar ao cliente e aos outros times.
E assim como a organização dos times, a existência de camadas de gestão deve ser justificada pelo valor entregue. Ou seja, uma camada de gestão só deve existir se de fato assumir trabalho que as camadas inferiores normalmente não deveriam assumir.
Mantenha as informações transparentes e as conversas francas
Como mencionei, uma boa comunicação depende da qualidade das informações disponíveis e de bons relacionamentos.
Para manter a qualidade, mantenha as informações organizadas e facilmente acessíveis para todos. Práticas que precisam ser seguidas devem atender a essa diretriz, já que as pessoas seguem o que elas veem e você quer que elas vejam o que é certo.
E assim como as informações organizacionais são importantes, compartilhar informações sobre a vida pessoal, hobbies e qualquer outro assunto interessante é igualmente importante para se conectar com as pessoas. Pois é assim que bons relacionamentos são formados dentro do ambiente de trabalho.
Essas trocas podem acontecer em momentos como 1:1's e happy hours, não precisando ser necessariamente em reuniões de trabalho. E lembre-se: não queremos que apenas o time compartilhe, nós como gestão precisamos estar abertos para compartilhar também.
Mantenha a adaptabilidade como um objetivo
A mudança em sistemas complexos é natural e esse é o comportamento que vemos nas empresas. Por isso, devemos trabalhar continuamente nas mudanças organizacionais.
A cada mudança, é preciso revisar e rearranjar a estrutura de acordo com a experiência e com os feedbacks obtidos. E, para esse processo funcionar, o ideal é se manter um mínimo de especificação da organização, a fim de não engessar a estrutura e ser possível seguir com as mudanças necessárias.
Quando as pessoas pararem de reclamar a respeito das mudanças e passarem a sugerir novas mudanças estruturais, esse é um sinal de que a adaptabilidade organizacional provavelmente foi atingida.
📖 Aprendizado contínuo: Formando blocos de memória
Seção com a minha rotina de aprendizado.
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Blocos de memória são informações que o nosso cérebro consegue acessar facilmente. Por exemplo, quando estamos aprendendo a dirigir, costumamos ficar muito atentos aos pedais e a como passar a marchar. Depois de um tempo de experiência, não precisamos mais ativamente nos lembrar qual pedal é qual para saber passar a marcha. E isso acontece porque formamos um bloco de memória sobre como dirigir.
Pelo exemplo que eu dei, já dá para entender que blocos de memória se formam através da prática focada e da repetição. Mas não são apenas atividades práticas que permitem a formação de blocos de memória. É possível formar um bloco para qualquer conceito que estamos aprendendo, através de algumas práticas.
Sempre que quiser transformar algum aprendizado em um bloco de memória que será facilmente acessado pelo seu cérebro depois, preste muita atenção no que está aprendendo. E é muito mais fácil manter a atenção se iniciarmos dos conceitos mais simples. Por isso, é recomendado que você organize os seus estudos de forma a consultar primeiro os conceitos básicos e ir evoluindo a dificuldade conforme for entendendo cada um deles.
Além de entender como um conceito funciona, é interessante entender em qual contexto ele pode ser aplicado. Assim, você consegue filtrar quando o bloco de memória pode ser ou não usado. Em uma atividade feita de forma mais automática, é bem importante estar ciente de que está agindo dentro do contexto correto.
Finalmente, mantenha a prática. Assim como no exemplo da direção, você só vai formar um bloco de memória e tornar o conceito natural se continuar praticando de forma contínua. Como sugeri na edição anterior, usar a repetição espaçada é um ótimo aliado para a fixação e o aprendizado verdadeiro.
📄 Notas quinzenais
Uma curadoria sobre tudo o que chamou a atenção nos últimos dias. Por William Brendaw.
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Quão cedo é agora para se aposentar?
Um casal da China virou notícia ao decidir se aposentar antes dos 50 anos sem ser super rico.
Os Chen, uma ex-designer de jogos e um ex-profissional do mercado imobiliário, tomaram a decisão após ficarem desempregados no final do ano passado. Com uma vida simples, caseira e muito menos ansiosa, eles calculam que podem viver os próximos 30 anos com suas economias.
Há quem ache que as contas não fecham ou que eles podem viver além dos 30 anos, mas traz alguma paz ler o relato dos Chen. O casal enquadra sua decisão como uma adoção do estilo de vida tang ping (躺平), um movimento da juventude chinesa que está exausta.
Conteúdo em inglês.
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Um uso útil para as IAs generativas
Ao invés de querer usar as IAs como um gerador de lero-lero que quebram facilmente, o DuckDuckGo, buscador alternativo ao Google que respeita a sua privacidade, está usando os poderes da OpenAI e Anthropic para resumir textos da Wikipédia e devolver em consultas/perguntas mais objetivas, que comportem respostas diretas.
Por enquanto o recurso só está disponível para buscas em inglês no seu navegador ou nas suas extensões para os maiores buscadores do mercado.
Parando para pensar além da utilidade, que deve se provar, a iniciativa do DuckDuckGo é muito interessante, principalmente por mostrar que outros usos de IAs gerativas são possíveis e menos gerador de lero-lero.
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Um passatempo divertido de carregar o porta-malas de um carro
A premissa é boba, mas a jogabilidade é simples e bem divertida. Dentro de 1 minuto e meio você precisa organizar itens num porta-malas. Basicamente um Tetris, só que de pré-viagem. O jogo é web e pode ser jogado tanto no computador quanto pelo celular.
Conteúdo em inglês.
💻 Últimos posts do blog
Seção onde envio as atualizações do blog, sempre no estilo slow blogging.
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Estou num momento da minha carreira em que estou direcionando todos os meus esforços num objetivo que defini no ano passado. Por isso, espere ver mais posts sobre gestão e carreira nas próximas semanas.
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Carreira
É muito fácil trabalhar bastante e esquecer o quanto estamos impactando no trabalho. Por isso e para me ajudar a ser mais consciente das minhas conquistas e facilitar a vida do meu gestor, criei um brag document. Nesse post, compartilho o formato e como tenho usado e atualizado ele no dia a dia.
Liderança e gestão
Sobre gestão - Transição para a gestão de pessoas
Entendo que a escolha pra virar um gestor de pessoas deve vir acompanhada da consciência sobre as responsabilidades envolvidas. Por mais que pareça um passo interessante na carreira, tomá-lo sem considerar se é algo que reflete as suas aspirações pode ser perigoso. Nesse post, falo sobre o que considerar antes de fazer essa transição que pode impactar muito a vida profissional de outras pessoas que estarão com a gente.
Pensar em diversidade e inclusão não é apenas moral e socialmente necessário. Para ter bons resultados e inovar, é preciso pensar diferente. E são pessoas com diferentes origens, culturas e experiências que vão habilitar esse pensamento diverso de forma natural.
Espero que tenha sido uma boa edição.
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Por hoje é isso, boa quinzena!