Olá,
Na semana passada, terminei de ler o livro "A regra é não ter regras", do CEO da Netflix. Ele apresenta a cultura da empresa, que é pautada em 3 itens: densidade de talentos, sinceridade e remoção de controles. Dentre todos os conceitos apresentados para a construção da cultura, o que mais me chamou a atenção foi o de liberdade com responsabilidade. Consequentemente, fiz uma autoavaliação e me perguntei: "Qual é o nível de liberdade que tenho no trabalho? E qual é o meu nível de responsabilidade em relação à liberdade que me foi dada?".
Como liberdade e responsabilidade não são os únicos conceitos que formam qualquer contexto de trabalho, considerei também o que sei a respeito das expectativas quanto à minha atuação, se tenho clareza quanto aos resultados que preciso entregar e se o ambiente em que trabalho me dá a segurança suficiente para sinalizar um erro e pedir ajuda. Afinal, tudo isso impacta nas decisões que tomo no dia a dia e até mesmo no meu comportamento frente aos problemas que surgem.
A resposta é que no momento tenho um nível de liberdade interessante mas, fazendo uma retrospectiva, não importa o nível de liberdade que tenho, porque sempre tento ser o mais responsável possível. Já conheci vários profissionais que atuam de forma parecida, mas também já trabalhei com muitas pessoas onde a liberdade era extremamente importante, mesmo que não estivessem dispostas a ter o mínimo de responsabilidade.
Por isso, trago o tópico autogestão na seção "Falando sobre agilidade" e também um pouco da fase profissional onde tive a maior preocupação sobre o que pensavam a meu respeito na seção "Hack de carreira".
Espero que os questionamentos façam sentido e que te façam pensar a respeito da tua postura profissional tanto quanto eu pensei a respeito da minha.
Abraço,
Ingrid Machado
Nesta edição
🔄 Falando sobre agilidade: Autogestão
🧭 Hack de carreira: Meu primeiro emprego
📝 Recomendações da edição
📚 Lista de leitura 2021
💻 Últimos posts do blog
⌨️ Posts futuros do blog
Falando sobre agilidade: Autogestão
Uma seção para falar de agilidade, mas trazendo a minha visão com anos de atuação como Scrum Master. Como fazer a teoria ser aplicada na prática? Como adaptar as diversas técnicas para os diferentes contextos onde a agilidade pode ajudar? Como usar a agilidade para fazer a diferença? São essas e outras perguntas que tentarei responder, além de também trazer questionamentos para quem me acompanha.
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O Scrum prevê cerimônias com timebox, ocorrência e objetivo bem definidos e seguir essas recomendações já é o suficiente para ter uma organização dentro do time. Faz parte do trabalho do Scrum Master (SM) garantir que as orientações do Scrum Guide serão seguidas e trabalhar continuamente para que o time evolua para a prática mais adequada. E faz parte do trabalho do Product Owner (PO) gerar os insumos para fornecer orientação a respeito do produto. Isso é feito através da criação e disponibilização de um Product Backlog completo e atualizado, sempre pronto o suficiente para ser utilizado como artefato principal das cerimônias, além da disponibilidade para tirar dúvidas do time.
Mas agora eu quero falar do ponto de vista do integrante do time de desenvolvimento. É imprescindível saber minimamente o que esperar a cada ponto da Sprint, para fazer uma gestão efetiva do seu próprio trabalho. Porque, por mais que a agilidade suponha que abraçamos as mudanças, se não existe uma organização básica talvez estejamos mais a beira do caos do que dentro de um ambiente complexo.
Então, se você faz parte de um time onde o SM está disponível para garantir que a definição do Scrum seja respeitada e o PO está igualmente disponível para fazer a gestão do Product Backlog, entendo que você tem uma rotina. A rotina organizada é um ponto importantíssimo para que os integrantes do time consigam fazer sua autogestão. Com ela, é possível ter:
Uma organização das tarefas ao longo da Sprint: o uso de uma ferramenta de gestão visual do trabalho permite que você se organize durante o dia;
Mais segurança no momento de firmar compromissos: você está desenvolvendo uma história de usuário em que participou da discussão desde o refinamento, pelo menos. Certamente é mais fácil entender se é possível finalizar ou até mesmo dizer alguma estimativa quando se tem um fluxo onde você participa da construção da visão do produto;
Participação mais efetiva nas cerimônias: sabendo o objetivo da reunião, é muito mais proveitosa a sua participação. Além de ser possível fazer uma preparação prévia, expectativas alinhadas sempre trazem benefícios para a discussão.
A rotina no andamento da Sprint permite uma maior organização, que aumenta o envolvimento e comprometimento do desenvolvedor em cada etapa da construção do produto. Se você como desenvolvedor participa efetivamente das cerimônias, provavelmente não vai concordar em se comprometer com o desenvolvimento de uma história de usuário que não está bem escrita. Se você atualiza a sua ferramenta de gestão visual, o SM tem insumos para identificar gargalos e atuar quando necessário, mesmo quando você ainda não percebeu que existe um gargalo a nível de time. E se você está com as suas tarefas atualizadas, as métricas exibirão valores confiáveis e não haverá desperdício nos esforços para a melhoria contínua. Eu poderia dar vários exemplos para cada um dos itens anteriores, mas acredito que já foi o suficiente para entender que cada um é igualmente responsável pelo sucesso do trabalho de toda a equipe. Porém, a autogestão não deve se limitar ao trabalho individual.
Mesmo que uma pessoa saiba autogerenciar bem as suas atividades, isso não garante que também saiba trabalhar bem em equipe, então é necessário ajustar a autogestão do time como um todo. Equipes maduras trabalham bem sem grandes intervenções fora das cerimônias, mas se a autogestão for trabalhada desde o momento da formação do time, com um apoio especial para os profissionais de nível júnior, ela rapidamente se torna uma característica muito forte conforme o time evolui.
Como Scrum Master, saber que o time sinalizará impedimentos e que usará das cerimônias e ferramentas para organizar e exibir o andamento do trabalho é o resultado de um bom trabalho em equipe. Se você está em uma equipe que já conseguiu atingir esse nível, parabéns. Se não, avalie os gargalos do time, os tipos de tarefa que mais necessitam de intervenção durante a Sprint e instigue o time a se autogerenciar através da melhoria contínua.
Hack de carreira: Meu primeiro emprego
Nesta seção, vou falar sobre como mudei alguns comportamentos que cultivei desde o meu primeiro emprego e que até pouco tempo atrás me prejudicavam e eu não tinha consciência. No decorrer das edições, vou explicar um pouco melhor como tudo aconteceu e espero que sirva de exemplo e motivação. O primeiro capítulo dessa história foi contado na primeira edição.
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Anteriormente, eu falei sobre a minha graduação, que não foi apenas choro e desespero. Também teve muito aprendizado e posso dizer que a base que aprendi lá me ajudou muito em todos os cargos e papéis que tive até hoje e, no meu último ano de faculdade, consegui o meu primeiro emprego através de um programa de bolsas. Seguindo a linha do tempo correta, eu iniciei o último ano, entrei no programa de bolsas, apresentei o meu TCC e fiz uma certificação do Oracle ATG. Passar nessa certificação era a condição para poder ser efetivada e felizmente consegui ser aprovada.
Então foi isso, tive a grande "sorte" de sair da faculdade empregada. Digo sorte entre aspas porque desde o processo de seleção para o programa de bolsas até o momento da efetivação o meu sentimento era de que não seria aprovada em nenhuma etapa. Já na entrevista para a bolsa ouvi o professor falar para o recrutador que eu não era a melhor candidata, mas sei que ele se incomodava comigo por cobrar o registro das notas no sistema, algo de que não me arrependo e nem faria diferente.
Durante o estágio, a minha atuação se resumia a passar o dia estudando a documentação do Oracle ATG e ficar esperando algum mentor responder às minhas dúvidas. E a prova da certificação foi mais difícil do que deveria, já que fiquei me cobrando e coloquei na minha cabeça que não poderia falhar de forma nenhuma. Afinal, eu era a única mulher da equipe e não queria dar razão para quem me desacreditou durante toda a graduação.
Mas, como havia antecipado, passei na prova e fui efetivada. Me dediquei bastante para aprender tudo sobre o meu trabalho e virar o melhor desenvolvedor back-end da minha unidade. Fiz isso sem deixar de sempre treinar e apoiar qualquer nova turma de bolsistas que iniciasse com a gente e sempre acreditei que não é porque eu passava por poucas e boas para conseguir estudar e desempenhar o meu trabalho que os outros também deveriam passar. Mas também reconheço que em muitos momentos não estava preparada o suficiente para repassar conhecimento, justamente por focar o meu desenvolvimento somente na parte técnica.
Com o tempo, comecei a notar algumas coisas. Em algumas reuniões, a minha opinião não importava, alguns colegas não me retornavam ou até mesmo deixavam claro que não estavam a fim de trabalhar comigo. Era uma coisa que me incomodava, mas que só abri os olhos pela primeira vez quando comentei isso com dois colegas e eles me confirmaram que eu estava certa: infelizmente muita gente não dá o devido crédito para o teu trabalho e até se incomoda de trabalhar contigo. E o mais decepcionante é que a desculpa nem era que eu era uma pessoa difícil de lidar ou algo do tipo. A desculpa é que, por ser mulher, eu provavelmente não era uma boa desenvolvedora.
Aquilo caiu como um balde de água fria, achei que nada poderia ser pior. Mas sempre pode piorar, infelizmente. Nas minhas férias eu tive o meu notebook "consultado para motivos profissionais". Falando claramente, meu gestor acessou o meu notebook para ler os meus emails e conversas no Skype. Lembrando disso agora eu não sei como não pedi demissão imediatamente quando fiquei sabendo, mas eu vivi um alto nível de estresse e mesmo assim fiquei. Talvez porque eu queria provar que era boa e até acho que provei, porque, quando fui embora, tinha o cargo de desenvolvedora sênior.
Talvez eu não tivesse que provar nada para os outros, somente para mim mesma. Mas sair foi uma escolha difícil, por mais que eu não estivesse feliz. Sempre tive uma resistência à mudança e sei que esse foi um comportamento que impediu o meu crescimento em diversos momentos. Formar a consciência sobre isso é o que me motiva a dizer que o livro "Como as mulheres chegam ao topo" foi o momento de virada. Porque até ali eu achava que tudo isso acontecia somente comigo.
Recomendações da edição
Seção com as recomendações relacionadas com o assunto da newsletter ou com novidades interessantes e que acho que vale a pena conhecer.
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Documento com a cultura da Netflix explicada. Muitas das práticas parecem inatingíveis em uma primeira leitura, mas ao ler o livro que inspirou essa edição, entendi que todas essas orientações fazem sentido. Caso não pretenda adquirir o livro ou queira um material de referência menor, esse artigo explica todas as diretrizes que são seguidas.
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Como Netflix também é entretenimento, vou deixar a indicação da série que passei o final de semana inteiro assistindo ao invés de revisar a newsletter. O trabalho extra na segunda-feira à noite valeu a pena, porque foi uma ótima maratona.
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Anna Wiener: “O conto da meritocracia na indústria tecnológica é uma balela” - El País
Entrevista com a Anna Wiener, autora de "Uncanny Valley: A memoir", ainda sem tradução no Brasil. No livro, ela conta sobre a quebra de expectativa que teve ao descobrir que nem sempre a cultura que é divulgada é levada a sério dentro das startups do Vale do Silício. Um artigo importante para quem ainda se deslumbra com propagandas e precisa saber como as coisas funcionam de verdade.
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Notas semanais - William Brendaw
Nesta segunda-feira, o William lançou uma newsletter repleta de recomendações interessantes. Costumo dizer que ele tem um gosto mais apurado do que o meu para encontrar conteúdo relevante na internet e, se você se inscrever, provavelmente irá concordar comigo. A newsletter dele é semanal e enviada toda segunda-feira às 9h.
Lista de leitura 2021
Prometi ler 12 livros em 2021. Já passei desse número, mas sigo compartilhando os últimos livros que li. A lista da promessa original pode ser vista no post Lista de leitura 2021.
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A regra é não ter regras - Reed Hastings e Erin Meyer
O livro do CEO da Netflix inspirou essa edição da newsletter. Ele apresenta uma cultura muito diferente do que estou acostumada e confesso que no início do livro achei as práticas muito agressivas. Porém, ao concluir a leitura, entendi toda a jornada percorrida antes da Netflix chegar onde está hoje e posso dizer que vale a pena conhecer esse exemplo de gestão. Foi a leitura de maio do clube do livro das Mulheres de Produto.
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A revolução dos bichos - George Orwell
Fábula política que demorei tempo demais para ler. Apesar de sempre me recomendarem esse livro, acabava deixando para depois e, quando finalmente li, vi o quanto é engenhosa e instigante. Li a edição da Antofágica e gostei muito dos posfácios, que trazem um panorama geral da vida do George Orwell e do impacto e significado da obra.
Últimos posts do blog
Seção onde envio as atualizações do blog. Não será uma seção com envio tão frequente porque estou aderindo ao slow blogging, mas sempre que houver alguma novidade, você fica sabendo por aqui.
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Ainda sigo com a série sobre o Azure e acredito que ela já está se encaminhando para o final. Além disso, complementei o material do "Falando sobre Agilidade" da edição anterior e escrevi um post sobre o hábito da leitura, que tanto tem me ajudado a melhorar a minha qualidade de vida.
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Facilitação
Na edição anterior, falei sobre o acompanhamento da moral do time na seção "Falando sobre agilidade". Como o texto focou numa parte mais teórica, publiquei este post mostrando o formulário que uso para coletar as respostas e como faço a organização desses dados no Excel. Além disso, também comentei um pouco mais sobre a análise e espero que complemente bem o material anterior.
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Desenvolvimento pessoal
Cultivando o hábito da leitura
Esse ano tenho me dedicado muito à leitura como uma forma de me distrair de tudo o que vem acontecendo. Mas nem sempre consegui ler frequentemente e muito menos usar a leitura como entretenimento. Neste post, compartilho as dicas que segui e funcionaram comigo para que eu pudesse aproveitar um pouco mais o que os livros têm a oferecer.
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Ferramentas
Azure Boards - Queries - Parte III
Finalizando a parte de queries, este post mostra como fazer consultas simples dentro do Azure. Além disso, também passo uma visão geral do editor de queries e como podemos salvar queries de forma pública e privada dentro do projeto.
Este post apresenta uma parte bem interessante para quem quer fazer a gestão visual e acompanhamento de métricas dentro do Azure. Aqui eu listo todos os widgets que geralmente uso para montar os dashboards dos times e uma dica que nem todo mundo sabe sobre o widget "Chart for work items".
Posts futuros do blog
Sempre estou planejando novos conteúdos e gosto de compartilhar este processo com os inscritos na newsletter. Esta seção inclui as ideias que estão na fila e o que ando estudando e pode virar post.
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Além de seguir com a série sobre o Azure Boards, pretendo escrever um pouco mais sobre facilitação e gestão. No momento, estou pegando alguns insights do Google Analytics e os acessos estão bem direcionados para esses assuntos.
A fila de livros não ficção que quero ler e comentar a respeito também está enorme, então esses posts ficam planejados para o longo prazo.
E se você costuma procurar os posts por assunto, vai notar que a página de categorias está bem mais de acordo com o restante do layout do blog.
Caso tenha alguma sugestão de pauta, fique à vontade para responder esse email ou até mesmo comentar lá no blog.
Queria agradecer a todos que me mandaram feedbacks a respeito da última edição. Como você deve saber, tanto a newsletter quanto o blog são conteúdos que eu disponibilizo de forma gratuita e o que eu tenho de retorno é essa troca com todo mundo que lê o que eu escrevo. E eu fico muito feliz de saber que as minhas opiniões fazem sentido e levantam algumas discussões, principalmente quando compartilho sobre a minha carreira. Isso realmente não tem preço. Mais uma vez, muito obrigada.
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Para finalizar, queria te deixar o seguinte questionamento: você usa a sua liberdade de forma responsável?
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Por hoje é isso, boa quinzena!
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Imagem do preview de Anna Asryan, via Unsplash